segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Problema do Óleo Caseiro

Primeiro Caderno Dia-a-diaEdição de quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Destino certo para o óleo caseiro

Danos ao ambiente podem ser evitados com o simples hábito de não jogar o líquido no solo
Tiago Germano // Especial para O Norte

A dúvida é uma das mais frequentes entre as donas de casa: o que fazer com o óleo de cozinha que sobra diariamente do preparo de alimentos? "Reutilizo e, quando ainda sobra, jogo pelo ralo", respondeu Josinete de Oliveira, empregada doméstica, descrevendo um hábito que se repete na rotina das casas de milhões de brasileiros. "Não sei que destino dar, então procuro fazer render o máximo e me livro do resto pelo ralo mesmo", completou Josinete. O que ela e muita gente não sabe é que, além dos danos à saúde que o reaproveitamento do óleo pode provocar, ao jogá-lo na pia, um dano ainda maior começa a ser provocado ao degradar a natureza.

"Além dos entupimentos e transtornos na rede de esgoto, o óleo de cozinha, quando despejado em locais indevidos, pode entrar em contato com mananciais e afluentes hídricos, causando prejuízos consideráveis ao meio ambiente". A informação Socorro Fernandes, da Associação Paraibana dos Amigos da Natureza (Apan), é um alerta redobrado de recomendação: jogar o óleo no quintal também não é o mais indicado.

Quando em contato com o solo, o óleo vegetal de cozinha pode impermeabilizá-lo, contribuindo para o risco de enchentes e para a perda da fertilidade. Não bastasse isso, em decomposição, o óleo libera gás metano, o que aumenta a ocorrência de chuvas ácidas, efeito estufa e aquecimento global. Na água, devido à sua densidade, o óleo cria uma camada que impede a penetração dos raios solares e dificulta a oxigenação, ocasionando prejuízos à fauna e à flora aquáticas. A proporção assusta: pouco mais de 1 litro de óleo é capaz de poluir algo em torno de 10.000 litros de água.

O que fazer, então, com todo aquele óleo acumulado das frituras, cada vez mais requisitadas no cardápio familiar? Uma das alternativas é apontada pela Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (Emlur), que desde 2007 implantou em João Pessoa o projeto "Não Vai Pelo Ralo". A iniciativa, que começou recolhendo o óleo utilizado em barracas da orla marítima, hoje já atende 19 bairros da capital que dispõem de coleta seletiva. Todo o óleo coletado é transformado em um sabão ecológico, produto de menor impacto ambiental.

De acordo com Elma Xavier, diretora do Departamento de Valorização e Recuperação de Recursos Sólidos da Emlur, no início da campanha constatou-se que todo o óleo residual das barracas da orla marítima era atirado na areia da praia. Depois de uma campanha de conscientização, a Emlur passou a contar com a colaboração de cerca de 90% das barracas, que se comprometeram a fornecer o óleo para o projeto.

Com o tempo, os restaurantes da capital seguiram o exemplo. Atualmente, o "Não Vai Pelo Ralo" conta com 36 estabelecimentos comerciais cadastrados e uma lei sancionada no ano passado já obriga todos os restaurantes da cidade que renovem sua licença de funcionamento a apresentar soluções sustentáveis para o aproveitamento do óleo. "Por ser João Pessoa uma cidade turística, a contribuição é sazonal. Na época do verão, chegam à Emlur de 800 a 1.000 litros de óleo por semana. Agora em julho, entretanto, a média foi de apenas 200 litros", calcula Elma Xavier.

O volume é pouco, segundo a Emlur. Levando-se em consideração que uma família média consome 2 litros de óleo por mês e descarta quase 50% deste montante, a quantidade recolhida poderia ser bem maior. Para que o óleo não vá para o ralo, a Emlur recomenda que ele seja depositado em garrafas PET e entregue aos agentes ambientais que transitam pelos bairros da cidade. Há também sete pontos de entrega onde a população pode deixar as garrafas com os restos do óleo de cozinha.

Para cada cinco litros de óleo que são coletados pelos agentes, seis quilos de sabão ecológico podem ser derivados. O produto é uma mistura do óleo usado (que é filtrado para eliminar impurezas), água, soda cáustica e essência. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFPB), através do Projeto Soluz, é parceiro da Emlur na produção do sabão ecológico. "Ministramos oficinas em comunidades de baixa renda. Ali, orientamos as pessoas a produzir o sabão ecológico com o seu próprio óleo e com os que nos chega através da coleta", afirmou a professora Claudiana Leal, coordenadora do projeto. Solução prática e ambientalmente correta, o sabão ecológico ainda proporciona inclusão social para vários paraibanos. O meio ambiente e a sociedade agradecem.

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