sábado, 20 de novembro de 2010

O Ofício do Professor e a Garrafa de Náufrago


A cada dia eu me sinto mais realizado com o meu ofício de professor.

No começo desta semana eu me encontrei por acaso com Samara Arruda, que foi minha aluna na disciplina Direito Ambiental.

Ela me contou que foi aprovada na seleção do mestrado em Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba logo após o término da graduação, e que agora está concluindo os créditos e começando a escrever a dissertação sobre gênero e preconceito.

Samara falou ainda que no futuro pretende desenvolver uma pesquisa envolvendo Direito Ambiental e Direitos Humanos, abordagem a que teve acesso nas minhas aulas a partir da perspectiva do Movimento sobre Justiça Ambiental.

Inclusive, ela me convidou para fazermos esse trabalho em parceria assim que defendesse a dissertação.

Na semana passada fui participar da VII Jornada Luso-Brasileira de Direito do Ambiental, que ocorreu de 6 a 8 de novembro em Florianópolis, Santa Catarina.

Lá eu tive a oportunidade de assistir a defesa da tese de Valfredo Aguiar Filho, que foi meu orientando na graduação em Direito da Universidade Estadual da Paraíba e que se tornou meu amigo.

Valfredo depositou recentemente a dissertação de mestrado em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e está apenas aguardando a confirmação da data da defesa.

O tema do projeto foi sugerido por mim, cujo conteúdo e formatação também revisei – fato que me deixa particularmente orgulhoso.

Ele é atualmente professor do Centro de Educação Superior Reinaldo Ramos e da Universidade Estadual da Paraíba, sendo o organizador geral da Revista Científica Orbis (http://www.cesrei.com.br/ojs/index.php/orbis), novel e promissor periódico jurídico que cumpre as mais recentes regras metodológicas nacionais e internacionais.

Valfredo é autor de diversos artigos e capítulos de livros, tendo uma produção científica admirável em comparação aos seus poucos anos de labuta acadêmica.

Inclusive, no momento estamos escrevendo juntos um capítulo para o livro sobre Direito da Energia, que está sendo organizado pela professora Maria Luíza Alencar, atual vice-diretora do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal da Paraíba.

O interessante é que tenho esses ex-alunos na condição de colegas de profissão e de companheiros de lutas e de sonhos, e não de concorrentes, o que certamente não ocorre em outras profissões.

Um dos professores a quem mais me afeiçoei durante a graduação na Universidade Estadual da Paraíba foi José de Farias Tavares, autor de várias obras publicadas por editoras de circulação nacional e civilista consagrado.

Tavares costumava dizer que só efetivamente lecionava para dez por cento dos alunos, porque os demais somente se interessavam pelas notas.

É evidente que eu concordava com o professor, apesar de achar o percentual exagerado.

Contudo, eu revi minha opinião quando fui abordado por um grupo de alunos há alguns anos, os quais me pediram para enfocar apenas a matéria pedida em certames públicos.

Um deles chegou a afirmar o seguinte: “De que adiante estudar a desertificação da caatinga, se esse assunto é completamente ignorado nos concursos?”

Só que a importância dos apáticos e concurseiros de plantão é mínima se houver alunos que se interessarem verdadeiramente pelo ensino, ainda que sejam eles em percentual igual ou menor ao estimado pelo professor Tavares.

No meu caso, a despeito de estar lecionando há apenas sete ou oito anos, eu tenho a impressão que alguém já encontrou a minha garrafa de náufrago jogada ao mar.


(João Pessoa/PB, 20 de novembro de 2010).

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