Depois
de praticamente quatro anos de trabalho em parceria a Editora JusPodivm finalmente
lançou o livro “Direito Ambiental”, número 30 da Coleção “Sinopse para
Concursos”. O trabalho foi feito em parceria com os amigos Francisco Seráphico
da Nóbrega Coutinho, magistrado e professor universitário, e Geórgia Karênia Martins de Melo, advogada e professora universitária. O site da editora disponibiliza o sumário e trechos
do livros, entre outras informações relevantes:
sábado, 25 de maio de 2013
Mariana
o
meu futuro
se
descortina no seu olhar
cada
palavra aprendida
cada
passo iniciado
cada
pequeno gesto
todo
instante
é
uma descoberta
e
qualquer momento
uma
brincadeira
o
meu presente
é
a mais pura ternura
ao
tê-la em meus braços
nas
palmas da sua mão
a
vida ganha sentido
e
o acaso é sorte
cheiro
de flor em primavera
pele
clara de lua cheia
olhos
que mudam de cor
conforme
o céu ou o sol
como
um raio de sol
o
seu sorriso
faz
desabrochar o mundo
felicidade
é descobrir
que
o amor é aprendizado
(Cabedelo/PB,
25 de maio de 2013)
Retrato de um Salto de Pára-Quedas
Naquele instante
o mundo estava literalmente aos meus pés: eu tinha acabado de me desprender do
avião e olhava sobre o meu ombro direito, no intuito de conferir se o
pára-quedas estava se abrindo. Embora tivessem me orientado a conferir
seqüencialmente cada parte do equipamento, centésimos de segundo foi o
suficiente para que meu olhar pudesse perceber que ele funcionava regularmente
— exceto por um pequeno embaraçamento das cordas, o qual foi desfeito
rapidamente por mim. O alívio que senti nesse momento era a resposta para um
questionamento que não me deixou em paz ao tempo em que a aeronave ganhava
altura, que era sobre a possibilidade de o pára-quedas simplesmente não abrir.
Se eu morresse, pensei com naturalidade, não seria devido a uma ridícula falha
técnica ou humana, mas sim por causa de um ataque cardíaco.
Apesar de ter
chegado ao Aeroclube de Caruaru pela manhã cedo, somente por volta das três da
tarde é que o instrutor me convocou para o salto. Outras pessoas saltaram
antes, mas a demora se deveu principalmente à preparação do avião. A princípio
o nervosismo da espera me fez ir ao banheiro repetidas vezes, tendo eu depois
conseguido relaxar completamente. Essa súbita indiferença me fez pensar que,
provavelmente logo antes de sair da aeronave, o medo voltaria muito mais forte
e talvez me tirasse a coragem para saltar. Reler a apostila do curso, cochilar
um pouco e conversar eram a maneira de fazer as horas se passarem mais
depressa. É claro que em um ou outro momento eu ainda duvidava da minha
coragem, achando que voar era somente um atributo dos pássaros e dos deuses,
mas de uma maneira geral eu já tinha bem certa em mim a decisão de saltar.
Um comando para
que me movesse à direita me foi enviado pelo instrutor de navegação através do
rádio antes de eu começar a checar a precisão do equipamento, o que me fez
certificar que o pára-quedas se deslocava perfeitamente para todas as direções.
Por um instante uma sensação que não consegui identificar nem como alegre nem
triste tomou conta de mim, e eu passei a sentir que não havia saltado de
pára-quedas apenas: com certeza eu havia saltado abismos muito mais que aqueles
milhares de pés de altura. Eu havia principalmente saltado temores,
inseguranças, egoísmos, autopiedades, apegos, ressentimentos e outros fantasmas
que assombram o coração humano. Nesse instante comecei a sentir uma indiferença
em relação ao mundo e aos problemas do cotidiano. Por que tanta miséria,
violência, exploração, inveja, rancor, se o mundo visto do alto parece feito de
brinquedo? Eu refletia ainda que a vida talvez fosse
mesmo uma grande brincadeira, e tudo o que é preciso fazer é se entregar a ela
como um pára-quedista solto ao sabor dos ventos e da gravidade.
A
roupa para o salto era um macacão azul em cujas costas se colocaria um
pára-quedas de aproximadamente 15 kg. Ao vesti-lo eu me senti como um
astronauta, uma espécie de novo Armstrong a dar o seu primeiro passo na lua.
Imaginei Ícaro ganhando o céu em suas asas de cera e Santos Dumont dando voltas
ao redor da torre Eiffel, e quis saber que sensação eles tiveram. Mas não
demorou para que o instrutor chamasse a mim e a outros dois alunos para
adentrar o avião, de modo que a ordem do salto fosse contrária a da entrada na
aeronave. Ao passo em que ganhávamos altura minhas mãos suavam cada vez mais e
eu ficava sério e introspectivo, chegando a rezar a Ave Maria por diversas
vezes. Em certo momento eu tive o impulso de comunicar ao instrutor a minha
desistência, o que não fiz somente por causa da vergonha do que os outros iriam
dizer. Quando o primeiro aluno pulou e me convocaram para saltar em seguida, eu
cheguei a seguinte conclusão: eu era um louco. Do contrário, como é que se
justificaria que eu deixasse de estar em casa assistindo a um filme ou lendo ou
dormindo ou namorando, para arriscar a minha própria vida? Contudo, ao ser
perguntado pelo instrutor se estava pronto para o salto, enchi-me de coragem e
respondi que sim. Naquela hora, pensei, não haveria mais tempo para o medo.
Ainda
em pleno vôo a minha vida começou a desfilar diante de mim. Com emoção eu
reavivava cenas importantes da infância e da adolescência. Lembrei-me com igual
serenidade dos momentos tristes, alegres e decisivos, e por um instante meus
olhos ensaiaram lágrimas. Contudo, a realidade me era trazida de volta pelo
instrutor de navegação, o qual sempre pedia para eu fazer 90º à direito ou 180º
à esquerda auxiliando-me a ir em encontro ao alvo. Chamou-me a atenção o fato
de que em momento algum eu senti medo, apesar de ter pensado ainda no avião que
o temor poderia me paralisar os reflexos, o que significa que eu temi muito
mais temer do que tive medo realmente. Às alturas um uivo me assombrava os
ouvidos e um silêncio ressoava em minha mente, o que me fez imaginar o próprio nirvana.
Ressaltava essa quietude a impressão de estar estático, imóvel no ar como se eu
simplesmente flutuasse sobre a órbita terrestre, o que me deixou inquieto. Por
achar que eu poderia não mais tornar à Terra deixei os instrumentos de controle
livres, para que eu alcançasse o solo o mais rápido possível. O fato é que em
pouco tempo essa sensação se desfez, pois dos mil pés de altura até o chão tudo
parece ter se passado em no máximo vinte segundos. É claro que durante todo o
percurso procurei seguir com precisão as instruções de navegação.
Finalmente,
meus pés pisaram o chão. Caio de mau jeito machucando um pouco os joelhos e
ferindo as mãos com dezenas de espinhos. O vento arrasta o meu equipamento e
apesar do comando que recebi através do rádio encontro dificuldade para
freiá-lo. Mas não me importei com nada disso, afinal de contas eu tinha saltado
de pára-quedas. Os cinco ou seis minutos do salto foram a um só tempo os mais
longos e mais breves da minha vida. Algumas pessoas vieram em minha direção querendo
saber se eu estava bem e o que é que eu tinha achado da experiência. A verdade
é que embora meu corpo estivesse ali, estirado ao solo, a minha alma levaria
ainda horas para descer do céu. De fato, se não me tivessem ajudado a levantar
e a caminhar em direção ao hangar, eu talvez teria passado horas ainda ali.
Mesmo tendo ido ao céu eu não tinha avistado Deus, só que a paz que eu sentia
me indicava que eu O estava sentindo. Após agradecer a proteção do meu anjo da
guarda eu olhei para o céu e pensei no quão bonito é um dia de sol, um
pára-quedas colorido e um aprendizado diferente.
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Viver
tive vontade de cortar meus pulsos
tive vontade de arrancar meus olhos
tive vontade de extirpar meu pênis
no entanto, nada disso me traria você
nada disso me traria a paz
(...)
e eu simplesmente segui adiante
(Campina Grande, 18 de maio de 2013)
sábado, 11 de maio de 2013
Cinismo e Violência na Ditadura Militar Brasileira
Talvez a principal
característica da ditadura militar brasileira seja o cinismo: apesar da enorme violência,
os militares tentavam dar a aparência de que tudo estava normal. Por isso, o
Judiciário e o Legislativo funcionaram a maior parte do tempo, somente com a
cassação de alguns “elementos subversivos”. Por outro lado, como atribuir ao
regime tantas mortes, se os corpos simplesmente não apareciam? A falsa aparência
de ordem e o silêncio típico das repressões mais atrozes encontrava espaço no
discurso dos militares, para quem os assassinatos e as torturam eram apenas mais
uma acusação leviana dos opositores de plantão. Quanto cinismo! E, nesse caso, o cinismo não deixa de ser somente mais uma forma de violência contra os perseguidos, sua memória e sua família. Por isso, é que
a defesa da promoção do terror e da tortura pela máquina do Estado, como
ocorreu no Brasil e em outros países, só pode ser feita por pessoas ignorantes
ou desprovidas de caráter. A História realmente ensina, pena que nem todos
aprendam com ela.