Como qualquer adolescente de classe média, fazia anos que
eu alimentava o sonho de assistir as olimpíadas. Em 1996 eu pude realizar esse
sonho porque já trabalhava como professor e por causa da ajuda dos meus pais (muito
mais por isso do que por aquilo, é certo). Após uma cansativa viagem eu cheguei
ao monumental aeroporto de Atlanta, peguei minha bagagem e fiquei esperando o
meu anfitrião, que demorou mais de duas horas para me buscar. Nesse interim me
chamaram a atenção duas coisas: i) o movimento no aeroporto estava normal, não
havia festejos olímpicos nem quantidades excessivas de pessoas e ii) as capas
dos principais jornais e revistas simplesmente não faziam referência ao
assunto. Mais tarde o meu anfitrião me confirmou a impressão, ao dizer que nada
na cidade se alterara por conta do evento, nem mesmo o transito – a não ser, é
claro, no núcleo olímpico. Na televisão não era diferente, a programação não
era alterada em nada, quando muito o acontecimento era apenas um ponto da
pauta. É a propósito das Olimpíadas do Rio de Janeiro que eu rememoro tais
fatos. Aqui é tudo carnaval, tudo geleia
geral mesmo. O país todo para, pois até as instituições não diretamente
envolvidas deixam de atuar na sua normalidade. E olhem que nem estou falando da
corrupção e da gentrificação associadas ao megaevento. Isso diz muito a
respeito da nossa imprensa e dos nossos políticos, que se utilizam disso para
nos manipular e nos ludibriar.
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