sábado, 17 de fevereiro de 2018

Livro sobre royalties do petróleo

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quarta-feira, 20 de julho de 2016

Olimpíadas do Rio



Como qualquer adolescente de classe média, fazia anos que eu alimentava o sonho de assistir as olimpíadas. Em 1996 eu pude realizar esse sonho porque já trabalhava como professor e por causa da ajuda dos meus pais (muito mais por isso do que por aquilo, é certo). Após uma cansativa viagem eu cheguei ao monumental aeroporto de Atlanta, peguei minha bagagem e fiquei esperando o meu anfitrião, que demorou mais de duas horas para me buscar. Nesse interim me chamaram a atenção duas coisas: i) o movimento no aeroporto estava normal, não havia festejos olímpicos nem quantidades excessivas de pessoas e ii) as capas dos principais jornais e revistas simplesmente não faziam referência ao assunto. Mais tarde o meu anfitrião me confirmou a impressão, ao dizer que nada na cidade se alterara por conta do evento, nem mesmo o transito – a não ser, é claro, no núcleo olímpico. Na televisão não era diferente, a programação não era alterada em nada, quando muito o acontecimento era apenas um ponto da pauta. É a propósito das Olimpíadas do Rio de Janeiro que eu rememoro tais fatos.  Aqui é tudo carnaval, tudo geleia geral mesmo. O país todo para, pois até as instituições não diretamente envolvidas deixam de atuar na sua normalidade. E olhem que nem estou falando da corrupção e da gentrificação associadas ao megaevento. Isso diz muito a respeito da nossa imprensa e dos nossos políticos, que se utilizam disso para nos manipular e nos ludibriar.

Imponderável

Em um determinado trecho do filme Julieta, mais recente obra de Pedro Almodóvar, a protagonista se culpa pelo suicídio de um passageiro de trem que viajou ao seu lado. É que ele morreu durante a viagem em que tentou entabular sem sucesso uma conversa com ela. Aconteceu coisa parecida comigo faz vinte anos: o passageiro que viajou ao meu lado na volta de um vôo internacional fez o mesmo logo após chegar em casa, em plena comemoração familiar pelo seu retorno. Nós nos conhecemos no embarque e passamos cerca de dez ou doze horas juntos conversando sobre literatura, política y otras cositas más, e em momento algum ele me pareceu depressivo ou triste. Durante algum tempo pensei que se tivesse dito a palavra certa eu talvez tivesse mudado aquele destino. 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O desastre da Samarco (e da Vale e da BHP)



É evidente que cabe à Samarco arcar com todos os gastos relacionados à degradação causada pelo rompimento de sua barragem de rejeitos, seja com compensação, indenização ou recuperação. A responsabilidade civil em matéria ambiental no Brasil é objetiva, de maneira que o empreendedor assume integralmente o risco pela degradação a ser causada. Isso implica dizer que o prejuízo dos gastos da Defesa Civil, da interrupção do abastecimento público e da perda do trabalho dos pescadores, por exemplo, deve ser pago pela empresa e unicamente por ela.

Ao contrário do que defendem alguns, a Administração Pública não é uma seguradora universal da atividade econômica. Desejar que o Estado banque o estrago é querer lesar a coletividade duas vezes: a primeira quando da ocorrência do dano ambiental, a segundo com a lesão aos cofres públicos. Seria uma espécie de capitalismo para os lucros e comunismo para as despesas. Daí a necessidade de cautela para evitar que a coletividade e o Estado arquem não sejam reparados e restituídos.

Impende dizer que a Constituição Federal dispõe sobre a responsabilidade ambiental das atividades econômicas de maneira geral, sendo a mineração o único segmento econômico tratado à parte, haja vista o que determina o § 2º do art. 225: “Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei”. O comum é que a degradação causada por essa atividade seja muito intensa, embora não atinja grandes extensões territoriais – quando comparado, por exemplo, com a agricultura ou a pecuária. Infelizmente, não foi isso que ocorreu nesse caso, cuja abrangência ainda demorará a ser identificada.

Se o sujeito se embriaga, dirige a acaba atropelando e matando alguém, a condenação por homicídio doloso é praticamente certa hoje em dia. Uma empresa mineradora não toma as medidas preventivas mínimas necessárias e termina causando um desastre ecológico sem proporções no país e no mundo, gerando também dezenas de mortes. A diferença entre um caso e outro é que o desastre da Samarco foi muito mais grave e muito mais irresponsável. É claro que já se sabia que a barragem estava prestes a se romper, bem como é claro que já se sabia que no caso de rompimento o estrago ambiental e humano seria sem fim! Se o crime não foi premeditado, ao menos se assumiu o risco de causar a morte de pessoas, do rio e de todo um ecossistema.

Se fosse uma empresa sem fortes ramificações políticas é evidente que o seu diretor e demais responsáveis a essa altura não já estariam presos, ainda que o dano fosse menor. O que se vê, no entanto, é o tratamento cuidadoso de políticos da situação e da oposição, que mais parecem preocupados com quem lhe financia do que com os familiares dos mortos e desassistidos. O assunto também é tratado de forma suavizada pela maior parte da grande mídia, que desde o começo procurou desvincular as obvias conexões empresarias ao chamar o caso de acidente de Mariana. Que acidente de Mariana que nada, a situação tem nome e sobrenome: o nome é Samarco e o sobrenome é Vale e BHP, suas proprietárias! Não se entende porque se fala em lama e não em lixo tóxico ou pelo menos em lama tóxica.


Essa discussão relacionando o desastre da Samarco à privatização da Vale é inoportuna. Empresas públicas ou privadas podem causar desastres ambientais, o que acontece no Brasil e nos demais países. (A diferença talvez seja que no Brasil os políticos e a imprensa se preocupam muito mais em resguardar a iniciativa privada do que o patrimônio público. Se a lesão tivesse sido causada pela Petrobrás a postura certamente seria outra). A propósito, danos ambientais de grandes proporções aconteceram e acontecem tanto em países de economia capitalista quanto de inspiração comunista. O importante é aprendermos com a situação para que de agora em diante desastres como esse não venham a ocorrer mais, porque somente a prevenção pode garantir a efetividade do direito ao meio ambiente equilibrado.


domingo, 31 de maio de 2015

"O fim ou apenas o começo?" - por Ananda


Era uma vez uma princesa chamada Elisa. Ela era uma princesa normal, como outra qualquer, mas sempre questionava tudo, ela amava fazer perguntas pra todas e todos, em qualquer momento ou lugar. Certo dia, ela estava passeando com o seu pai, e os dois encontraram um homem idoso, com uma capa rasgada no meio da rua. Curiosa como sempre, a princesa Elisa já foi logo perguntando: “por que a sua capa esta rasgada, senhor?''. O homem, demoradamente, olhou pra ela, que disse: ''o que foi? repito: porque a sua capa esta rasgada, senhor?”, ela insistia. Então, ele disse: “você não acha que essa pergunta pode ter uma resposta delicada?”. Ela ficou parada, sem resposta. O homem, percebendo que havia arrancado as palavras da princesinha, disse: ''tudo bem, garota, você está certa. Mais vale saber uma pergunta do que todas as respostas”. E então, sem mais nem menos, ele saiu, deixando a menina muito curiosa, com um nó na cabeça. Passaram muitos dias, e a princesinha não parava de pensar na conversa que teve com o homem, nas palavras dele. Ela não entedia: por que é melhor saber uma pergunta do que todas as respostas? será que as perguntas são mais importantes que as respostas? ela queria se encontrar com o homem de novo para tirar a dúvida dela. Mas será que ela iria vê-lo de novo?? ela pensava todos os dias. Ela, então, decidiu que iria ao lugar onde o encontrara da última vez, o reino. Quando chegou, avistou o velhinho sentado, no chão. Ela se aproximou dele, decidida a perguntar o que ele queria dizer quando disse que mais valia uma pergunta do que todas as respostas. Chegou do lado dele, olhou pra ele e disse: “Olá, senhor. Você poderia esclarecer minha dúvida? por que mais vale uma pergunta do que todas as respostas? ‘’ ele olhou pra ela, ficou calado por um tempo e disse: “você gosta de fazer perguntas, não está? então já deveria saber. Descubra por si mesma”. A menina, não sabia como descobrir aquilo, então disse: “como?”. O homem, não muito surpreso com a reação dela, disse: ‘’ por que você faz tantas perguntas? pois não sabe de tudo, não?”. A menina pensou um pouco naquilo. Se ela soubesse de tudo, não faria perguntas. A menina olhou pra ele, que, impaciente, disse: “todos nós vamos ao mundo pra aprender, pra descobrir coisas novas, e legal descobrir coisas novas, não? você faz muitas perguntas, por exemplo, para descobrir coisas novas, estou certo? “ela pensou, era verdade que ela fazia perguntas pra descobrir coisas novas, ela gostava de conhecer o desconhecido, então ele voltou a falar: “mas se nós já sabemos de tudo, não temos mais nada de novo pra descobrir. E chato, sem novidades. E sem sentido, se já sabemos de tudo nossa vida fica sem sentido, pois não temos nada para descobrir, entende?” ela então disse:’ obrigado por esclarecer a minha dúvida, senhor. Mas você poderia me dizer por que sua capa esta rasgada?”. O senhor então, disse: “você não pode saber de tudo... tchau!”. E assim, a princesa seguiu seu caminho de volta pra casa, adormecendo a dúvida da capa, mas transformada por dentro.

                                                                        Fim.

O fim ou apenas o começo?


Ananda 29/05/2015 João pessoa.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A Bailarina e o Beija-Flôr



Naquele final de tarde a claridade do dia ao se despedir da Terra espalhou feliz o lilás por todo o horizonte. Sentada no banco de uma praça, uma menina de cabelos castanhos e longos e de olhos escuros contemplava o entardecer. Ela era uma bailarina e estava passado por ali ao acaso, quando resolveu parar para observar um pouco a vida. Homens e mulheres caminhando para as mais variadas direções, crianças brincando em gangorras e escorregos, jovens casais de namorados, alguns adolescentes fumando cigarros provavelmente escondidos dos pais, um sorridente pipoqueiro, um vendedor de algodão-doce, três hippies vendendo artesanato — ela assistia a tudo aquilo como se fosse a um filme ou a uma peça de teatro.

Ao modo de ver da bailarina a vida era realmente uma grande dança. Qualquer pessoa em cada mínimo gesto, seja ao falar, ao andar, ao se sentar, ao pensar, ao dormir ou ao amar, imprime à memória do universo um ritmo, uma velocidade ou um tom que lhe é peculiar. Embora também nunca lhe tivessem dito, ela sabia que as estações, as cores, as coisas, as plantas e os animais também seguiam uma coreografia própria. Até mesmo os planetas bailam em torno do sol, através dos seus movimentos de rotação e translação, repetindo seqüências que povos antigos executavam ao redor de uma fogueira. Todavia, ela imaginava que talvez pensasse aquilo somente pelo fato de ser uma bailarina, afinal o mundo é a extensão do mundo de cada indivíduo. Para um poeta, por exemplo, em qualquer momento se desdobra um poema, para um artista plástico o cotidiano é uma seqüência ininterrupta de manchas e de pontos, para um filósofo cada acontecimento propõe uma indagação ainda que sem resposta possível.

Nesse exato instante ela se deu conta que um beija-flor, em tonalidades azul e verde, pairava no ar quase ao seu lado, como se hesitasse em pousar. A bailarina teve a impressão de que ele a observava, pois os olhos do pássaro reluziam humanos e profundos. Depois de alguns minutos ela teve a intuição de que conseguiria se comunicar mentalmente com o beija-flor, caso o desejasse. É que ela se lembrou de ter lido em certo livro que um ser humano poderia se integrar à natureza ao ponto de poder conversar com os grãos de areia ou com as gotas da chuva. Assim, ela decidiu tentar entabular com o passarinho a seguinte conversa:

— Ah, Beija-Flor, gostaria que tu pudesses me entender, para eu te ensinar o quão bonito é o meu ofício de bailarina!

— Bailarina, eu te compreendo muito bem e até concordo com as tuas divagações sobre o dançar, respondeu o beija-flor para a surpresa da bailarina. Na verdade, continuou ele, os nossos trabalhos são muito parecidos. Quando pairo no ar para beijar uma flor e retirar o seu néctar, minhas asas bailam de um lado para o outro e meu bico se requebra em um bonito vai-e-vém. Ao atravessar o azul do céu, embalado no vento como quem segue o ritmo de uma canção, o que faço também é dançar.

— Já tu, prosseguiu ele, que pensas ser bailarina, és na realidade um passarinho, provavelmente um beija-flor. No instante em que teus pés deslizam sobre o palco, com a delicadeza de uma boneca de porcelana ao pisar um cristal, tu consegues facilmente voar. Teu corpo atinge um estado em que a alma o transcende, de modo que de um momento para outro tu te vês sobrevoando outras paisagens ou até dimensões nunca antes por ti imaginadas. É nessa hora que consegues beijar algumas das flores muito preciosas que guardas dentro de ti mesma.


No momento em que a bailarina olhava fascinada para o pássaro, ele bateu asas e voou. Ao prestar atenção ao vôo de despedida do beija-flor, talvez ainda duvidando de que ele lhe tivesse dito aquelas palavras, a bailarina percebeu que ele bailava ao invés de voar. Alguns minutos depois, ao se levantar do banco daquela praça no intuito de voltar para casa, ela teve a impressão de não estar tocando o chão, pois seu corpo estaria levitando. 



* Este artigo foi escrito provavelmente em 2002, e foi publicado no Diário do Nordeste (Fortaleza/CE) e na Folha de Pernambuco (Recife/PE).

domingo, 9 de novembro de 2014

Quem poderá nos salvar? Pequeno comentário sobre a crise hídrica brasileira


Talvez a discussão mais relevante do país seja a escassez hídrica, que está longe de ser um problema apenas de São Paulo. Vários outros Estados estão à beira de um racionamento, ao menos em determinadas regiões. No entanto, essa questão praticamente não foi discutida nos debates eleitorais deste ano, seja de âmbito nacional ou estadual – e quando foi, vale destacar, o debate nem sempre ocorreu de forma honesta. A irresponsabilidade organizada é generalizada nos três níveis federativos, e especialmente no âmbito dos Estados, que na maioria das situações são os responsáveis pelo sistema de abastecimento público e tratamento de esgoto. Só recentemente é que parcela menor da imprensa passou a abordar o tema com a necessária responsabilidade. Embora a legislação brasileira em matéria de recursos hídricos seja de maneira geral avançada e disponha de instrumentos interessantes, na maior parte do país predomina a falta de efetividade. Realmente, a Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n. 9.433/97) mal saiu do papel na maior parte das nossas bacias hidrográficas. O problema é que nós não estamos mais em vias de um colapso, mas já no próprio início do colapso. E, a despeito disso, nem mesmo com esse quadro aterrorizante o planejamento hídrico é levado a sério. Até parece que nós estamos esperando um milagre dos céus.