sábado, 20 de fevereiro de 2010

Montevidéu, Uruguai: Pôr-do-Sol no Rio da Prata





Em dezembro do ano passado, fui com minha esposa conhecer o Uruguai. Apesar das excelentes referências de amigos como Dênis Petuco, Flávia Fernando e Saullo Ais, confesso que fiquei surpreendido com a viagem.

Trata-se de um país com muitas belezas naturais e com uma infra-estrutura turística ótima, afora o fato de a capital Montevidéu ser muito bem urbanizada. A cidade possui inúmeros cinemas, museus e teatros, e conseguiu conservar bem o seu patrimônio histórico.

Contudo, chamou-me a atenção o grande número de árvores e de parques ecológicos e urbanos ali existentes. Parece que a constatação de que João Pessoa e Paris são os municípios mais arborizados do planeta não levou em conta a capital do Uruguai, até porque lá a arborização é distribuída em todos os bairros.

Na fotografia, estou eu a contemplar o pôr-do-sol no Rio da Prata, essa imensa bacia que abraça o Oceano Atlântico enquanto separa parte do Uruguai de parte da Argentina. Uma viagem certamente inesquecível.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Fotografias da Velha João Pessoa



Essas fotografias de João Pessoa me foram enviadas pelo Dr. Valério Bronzeado, Promotor de Meio Ambiente de Cabedelo, e mostram uma cidade já desmatada - embora, é óbvio, muito mais arborizada do que se encontra atualmente. Não existem datas nas imagens, mas a grafia "Parahyba do Norte", nome da capital paraibana até a Revolução de 30, indica que foram feitas nas três primeiras décadas do século passado.

Se a "Cidade das Acácias" é considerada um dos destinos mais bonitos do país, imagine se tivéssemos conservado melhor o nosso patrimônio natural? Resta agora preservar o que restou, para que não fiquemos apenas com o verde da água do mar.

Epígrafe 3 - São Francisco de Assis


No meu livro "Licenciamento ambiental: aspectos teóricos e práticos", cuja primeira edição foi publicada pela Editora Fórum em 2007, eu utilizei como epígrafe o texto "Cântico do irmão Sol", também conhecido como "Cântico das criaturas". Diferentemente da conhecida "Oração de São Francisco", o citado poema foi escrito pelo próprio santo de Assis, que já em sua época foi um grande amante da fauna e da flora.

São Francisco pregava aos pássaros e às cotovias e ensinava aos seus seguidores que cada criatura ou coisa feita por Deus tinha uma importância específica, e que por isso não podia ser desprezada. Nesse sentido, ele ensinava que as ervas daninhas não deviam ser arrancadas, posto que deveria existir um papel divino para elas na natureza - idéia que adiantou em séculos o conceito de agricultura ecológica.

Na publicação, é claro que eu usei apenas os trechos do texto que faziam uma referência direta aos recursos naturais, a exemplo da parte do sol, da lua e das estrelas. Contudo, agora o texto está reproduzido na íntegra a partir da tradução encontrada no livro "São Francisco de Assis: escritos e biografias de São Francisco de Assis: crônicas e outros testemunhos do primeiro século franciscano" (Petrópolis: Editora Vozes, 1997):


Altíssimo, onipotente, bom Senhor,
Teus são o louvor, a glória, a honra
E toda a benção.
Só a ti, Altíssimo, são devidos;
E homem algum é digno
De te mencionar.
Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as tuas criaturas,
Especialmente o Senhor Irmão Sol,
Que clareia o dia
E com sua luz nos alumia.

E ele é belo e radiante
Com grande esplendor:
De ti, Altíssimo é a imagem.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formaste claras
E preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Vento,
Pelo ar, ou nublado
Ou sereno, e todo o tempo
Pela qual às tuas criaturas dás sustento.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Água,
Que é mui útil e humilde
E preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Fogo
Pelo qual iluminas a noite
E ele é belo e jucundo
E vigoroso e forte.

Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a mãe Terra
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam por teu amor,
E suportam enfermidades e tribulações.

Bem aventurados os que sustentam a paz,
Que por ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.

Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
Conformes á tua santíssima vontade,
Porque a morte segunda não lhes fará mal!

Louvai e bendizei a meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande humildade.

Epígrafe II - José Gregório de Moraes Navarro


Um dos assuntos pelo qual mais me interesso em matéria de meio ambiente é a história dos precursores do movimento ambientalista. Aqui no Brasil homens como José Bonifácio de Andrade e Joaquim Nabuco, com especial perspicácia, estão entre os que enxergaram essa problemática muito antes do seu tempo.

Contudo, outros nomes menos conhecidos, como José Gregório de Moraes Navarro, um magistrado que vivia no interior de Minas Gerais no final do século XVIII, momento de decadência de um ciclo de extração de ouro e de diamantes na região, também foram precursores e deixaram a sua contribuição para o movimento ambientalista brasileiro. A citação seguinte foi retirada da obra “Discurso sobre o melhoramento da economia rústica no Brasil”, de autoria de Moraes Navarro, que foi publicada em Lisboa no ano de 1799:

"De todos os elementos que Deus criou para glória Sua, e para utilidade dos homens, nenhum é certamente mais digno de contemplação do que a Terra, Mãe comum de todos os viventes. Ela nos faz ainda hoje o mesmo agasalho que fizera aos nascidos no princípio do mundo. Nem a multidão imensa de famílias que a tem habitado, nem a terrível inundação e naufrágio que ela sofreu com todos os seus filhos criminosos, nem as diversas e espantosas revoluções que a tem muitas vezes quase lançado fora do seu eixo, nem a longa sucessão dos séculos que tudo muda e consome, são capazes de esterilizar o gérmen fecundo de sua fertilidade. Ela será sempre, até o fim do mundo, tão liberal e benéfica como foi no princípio.... apesar da ingratidão dos homens, que parece que trabalham continuamente para destruir e aniquilar as suas naturais produções, e para consumir e enfraquecer a sua primitiva substância."

A propósito, o historiador José Augusto Pádua se aprofunda nessa temática no livro "Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786-1888)", publicada pela Jorge Zahar Editor em 2002, fazendo uma espécie de arqueologia do pensamento ambientalista do tempo do Império.