Segue abaixo o excerto de artigo
escrito por José Belizário Nunes para o portal Usina de Letras que conta mais
uma passagem envolvendo o escritor e jornalista paraibano Orlando Tejo, que se
imortalizou ao publicar o livro "Zé Limeira, Poeta do Absurdo":
Na Paraíba, o jornalista Orlando
Meira Tejo, dono do Diário de Campina Grande, também tinha o hábito de
"matar" os desafetos nas colunas do seu respeitado pasquim,
publicar-lhes a história de vida, a hora, a razão e os trâmites do passamento,
fazer-lhes o elogio fúnebre e, num exagero de deferência para com o inimigo,
convocar a comunidade cristã para as cerimônias de corpo presente, o
enterramento e a missa de sétimo dia. Em um dia qualquer de 1958, Orlando Tejo,
um homem sempre na oposição, noticiou a morte do governador do Estado, Flávio
Ribeiro Coutinho. Escreveu tudo que quis escrever no obituário e, neste caso
específico, ainda noticiou a posse imediata do vice-governador, Pedro Gondim,
nomeou o novo secretariado e indicou as principais mudanças de estilo a serem
adotadas na administração provincial. O governador, morto ad hoc, ficou tão
irritado que abandonou todas as regras do cerimonial e foi ele próprio a
Campina Grande tomar satisfações. Lá, de revólver em punho, encurralou Orlando
Tejo debaixo do pé-de-escada em que funcionava a redação do jornal e exigiu a
impressão imediata de uma edição extra com um desmentido de tudo que fora
publicado na edição normal daquele mesmo dia. Tejo reagiu com grande bravura à
agressão e até com uma arrogância desproporcional ao tamanho do seu império
jornalístico: "Governador", disse ele, "jornal meu não dá
desmentidos. Se o senhor continuar com essa exigência absurda e com esse
revólver apontado para a minha cabeça, o máximo que eu posso fazer é publicar
na edição de amanhã que o senhor nasceu outra vez". E assim foi costurado
um acordo político em que se preservou, de uma só vez, o respeito à autoridade
constituída e o culto à liberdade de imprensa na Paraíba.