quarta-feira, 20 de julho de 2016

Olimpíadas do Rio



Como qualquer adolescente de classe média, fazia anos que eu alimentava o sonho de assistir as olimpíadas. Em 1996 eu pude realizar esse sonho porque já trabalhava como professor e por causa da ajuda dos meus pais (muito mais por isso do que por aquilo, é certo). Após uma cansativa viagem eu cheguei ao monumental aeroporto de Atlanta, peguei minha bagagem e fiquei esperando o meu anfitrião, que demorou mais de duas horas para me buscar. Nesse interim me chamaram a atenção duas coisas: i) o movimento no aeroporto estava normal, não havia festejos olímpicos nem quantidades excessivas de pessoas e ii) as capas dos principais jornais e revistas simplesmente não faziam referência ao assunto. Mais tarde o meu anfitrião me confirmou a impressão, ao dizer que nada na cidade se alterara por conta do evento, nem mesmo o transito – a não ser, é claro, no núcleo olímpico. Na televisão não era diferente, a programação não era alterada em nada, quando muito o acontecimento era apenas um ponto da pauta. É a propósito das Olimpíadas do Rio de Janeiro que eu rememoro tais fatos.  Aqui é tudo carnaval, tudo geleia geral mesmo. O país todo para, pois até as instituições não diretamente envolvidas deixam de atuar na sua normalidade. E olhem que nem estou falando da corrupção e da gentrificação associadas ao megaevento. Isso diz muito a respeito da nossa imprensa e dos nossos políticos, que se utilizam disso para nos manipular e nos ludibriar.

Imponderável

Em um determinado trecho do filme Julieta, mais recente obra de Pedro Almodóvar, a protagonista se culpa pelo suicídio de um passageiro de trem que viajou ao seu lado. É que ele morreu durante a viagem em que tentou entabular sem sucesso uma conversa com ela. Aconteceu coisa parecida comigo faz vinte anos: o passageiro que viajou ao meu lado na volta de um vôo internacional fez o mesmo logo após chegar em casa, em plena comemoração familiar pelo seu retorno. Nós nos conhecemos no embarque e passamos cerca de dez ou doze horas juntos conversando sobre literatura, política y otras cositas más, e em momento algum ele me pareceu depressivo ou triste. Durante algum tempo pensei que se tivesse dito a palavra certa eu talvez tivesse mudado aquele destino.