quinta-feira, 18 de junho de 2009

The Unending Gift - Jorge Luis Borges

Aos doze anos de idade eu fui apresentado a Jorge Luis Borges. Meu irmão mais velho me emprestou o livro "Minhas cinco visões pessoais" (Editora da Universidade de Brasília), composto da transcrição de palestras que o escritor proferiu na Universidade de Brasília. Eu me identifiquei imediatamente com aqueles ensaios que versavam, respectivamente, sobre o livro, a imortalidade, Emanuel Swendemborg, o conto policial e o tempo. Li e reli tantas vezes esse livro, que passei a saber de cor o número das páginas com as minhas passagens favoritas.

Aos quinze anos é que tive acesso a uma outra obra do autor, que foi "Elogio da sombra" (Editora Globo), um dos seus vários livros de poesia. Somente aí eu me apaixonei pela estética borgiana. Durante muitos anos esse foi o meu livro de cabeceira, e certamente nunca li tantas vezes um livro quanto esse. Depois conheci os seus contos em "O aleph" e "Ficções", inquestionavelmente as obras mais conhecidas e reconhecidas do autor.

Borges é um mestre do conto, tanto quanto Kafka ou Poe, e talvez esse seja mesmo o ponto alto de sua obra. No entanto, a mim me agrada particularmente os seus poemas. Certa vez, há cerca de doze anos, eu sonhei que me encontrava com o mestre, e tentava conversar com ele sobre o seu trabalho. Em um determinado ponto da conversa, eu não resisti e comecei a agradecer a ele de forma emocionada pelos livros que tinha escrito.

Ele agradeceu de forma gentil e sincera, mas pediu que eu não perdesse tempo com um escritor menor posto que existiam inúmeras outras obras mais relevantes. Como se pode perceber, nenhuma outra resposta seria tão borgiana quanto essa. Eis, logo abaixo, um dos meus poemas prediletos desse gênio da literatura:

The Unending Gift

Un pintor nos prometió un cuadro.


Ahora, en New England, sé que ha muerto. Sentí , como otras veces, la tristeza de comprender que somos como un sueño. Pensé en el hombre y en el cuadro perdidos.

(Solo los dioses pueden prometer, porque son inmortales).

Pensé en un lugar prefijado que la tela no ocupará.

Pensé después: si estuviera ahí, sería con el tiempo una cosa más, una cosa, una de las vanidades o hábitos de la casa; ahora es ilimitada, incesante, capáz de cualquier forma y cualquier color y no atada a ninguno.

Existe de algún modo. Vivirá y crecerá como una música y estará conmigo hasta el fin.

(También los hombres pueden prometer, porque en la promesa hay algo inmortal).

Jorge Luis Borges

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